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Eu faço Coaching numa empresa cuja diretoria fica nas mesmas instalações que a fábrica. No caminho que leva do portão de entrada à recepção, há um painel razoavelmente grande que diz “Estamos sem acidentes com afastamento há X dias. Nosso recorde é de Y dias”. Todas as semanas, quando passo pelo painel, reparo que X continua aumentando. Algumas semanas atrás eu notei que X estava bem perto de Y. Estavam prestes a alcançar seu recorde de dias sem acidentes com afastamento. Ao me dar conta disto pensei “que bom, vai haver comemoração”. E houve.

Desde aquele dia, X vem aumentando e Y é todo dia igual a X. Todos os dias, desde então, a empresa tem superado seu recorde de dias sem acidentes.

Passando pelo painel, há uma semana, eu pensei com meus botões “Será que estão comemorando todos os dias?Ou será que vai ser necessário ter um acidente e

voltar para a estaca zero e refazer toda a escalada até o recorde anterior para que haja legitimidade para uma comemoração?”. Descobri que não estavam comemorando o novo recorde que estabeleciam a cada dia. Mas, refletindo, me dei conta que isto é bastante comum e acontece freqüentemente com a gente.

Como dizia Eddie Merckx grande ciclista belga “somos infelizes porque não sabemos que somos felizes”. Pensando no assunto, me lembrei de uma frase que os americanos usam freqüentemente: it's got to get worse before it can start getting better. (Vai ter que piorar antes de poder começar a melhorar).

Esta forma de pensar é tão comum entre nós humanos. Quando o bom se torna padrão, mesmo que vá ficando melhor, não o valorizamos. Raramente festejamos o bom quando a ele estamos acostumados. Mas basta piorar para, de repente, sentirmos falta do bom. É precisamente a piada do bode. Aquela em que o pessoal de um escritório se queixava do pouco espaço enquanto o patrão continuava metendo mais gente. Até que um dia o patrão acrescentou um bode. A reclamação foi geral. Quando o patrão tirou o bode, houve uma festa e ficaram todos contentes.
A verdade é que muitas pessoas precisam que coloquem um bode em suas vidas para se darem conta de como estavam bem sem o bode.
Somos muito incompetentes em entender o presente, em aceitá-lo, em apreciá-lo.

Em O Poder do Agora, Eckhart Tolle escreve: “A inconsciência comum é sempre relacionada, de algum modo, com a negação do Agora.
O Agora, naturalmente, também implica no Aqui. Você está resistindo ao aqui e agora? Algumas pessoas prefeririam estar em outro lugar. O 'aqui' delas nunca é suficientemente bom.”.
O resultado é que assim não estamos nem no hoje, pois o rejeitamos, nem no amanhã, pois ainda não chegou. Não estamos nem aqui nem lá. Simplesmente não estamos. E assim vivemos, dia após dia, como um burro que persegue uma cenoura pendurada numa vareta presa em sua própria cabeça.

Viver permanentemente esperando, exigindo que as coisas melhorem e por isto ignorando, rejeitando a situação corrente é não viver. É a escravidão do amanhã e do sempre mais.
É escravidão mesmo porque quando vivemos cegos para o bem do presente, estamos abdicando de nossa liberdade de sermos os timoneiros de nossas vidas. Como assim? Pode até parecer que viver focalizado em como vai ser bom amanhã é uma forma de viver pró-ativamente. Mas não é não! Rejeitar o presente equivale a recusar a responsabilidade por estar nele, como se o presente nos tivesse sido imposto por outros. Se assim for, então quem está dirigindo? Como cheguei aqui? Se eu não sou responsável por estar onde estou, como posso acreditar que estou no comando de mim mesmo?
O bom timoneiro não culpa a correnteza, o vento ou a maré por estar onde está porque seu papel é justamente entender estas forças e compensar por elas na definição do rumo. O bom timoneiro se sente sempre responsável por estar onde está.

Tolle recomenda mais adiante: “Onde quer que você esteja, esteja lá por inteiro. Se você acha insuportável o seu aqui e agora e isso lhe faz infeliz, há três opções: abandone a situação, mude-a ou aceite-a totalmente. Se você deseja ter responsabilidade sobre sua vida, deve escolher uma dessas três opções e deve fazê-lo agora. Depois arque com as conseqüências. Sem desculpas. Sem negatividade. Sem poluição física.”.

Em As 7 Leis do Sucesso Espiritual, Deepak Chopra ensina que aceitação significa “assumir o compromisso de aceitar pessoas, situações, circunstâncias e fatos, da maneira como se apresentam... isso envolve aceitar total e completamente este momento, aceitar as coisas como elas são e não como você gostaria que elas fossem. É importante entender este mecanismo. Você pode querer que as coisas sejam diferentes no futuro. Mas neste momento tem que aceita-las como são.”.

Fatalismo? Certamente não! Fatalismo, a meu ver, é aceitar que não podemos mudar o futuro. Entender que não se pode mudar o presente é puro bom senso.
Focalizar nossa energia em lutar contra o presente é efêmero e tolo, pois é certo que o que já é não vai mudar. Muito mais inteligente e frutífero é focalizar a energia em mudar o futuro, este sim, inteiramente re-desenhável.
Se o presente nos desagrada podemos e devemos fazer todo o esforço possível para que amanhã seja melhor.
Mas enquanto o amanhã não chega, vamos aprender a festejar o hoje, o aqui, o agora.

No fundo é como se cada um de nós carregasse um painel que diz “Estou há X dias vivo sem acidentes com afastamento. Meu recorde pessoal é X.”. Vamos celebrar a quebra diária de nosso recorde pessoal de dias de vida, sem esperar a chegada do bode.

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