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Há alguns anos atrás, um avião da Varig que sobrevoava a Amazônia se perdeu e eventualmente caiu quando acabou o combustível em seus tanques. Caiu no meio da mata e houve vítimas, inclusive porque sua localização por parte da equipe de resgate foi difícil.

Na época, lembro que meu ex-cunhado, ele mesmo comandante da Varig, comentou comigo o acidente. Aparentemente os pilotos haviam se distraído por alguma razão com o avião fora do piloto automático, e perdido o rumo. Ao se dar conta de que não sabiam onde estavam, os pilotos baixaram de altitude para se aproximar do terreno na esperança de poder assim se guiar de alguma forma em direção a alguma cidade ou pista de pouso. Se você está no meio da Amazônia, que é muito grande, pode voar por muito tempo em qualquer direção e só ver mata por todos os lados.
Após uma ou duas horas de vôo quase rasante sem encontrar sinais de civilização, o combustível acabou e inevitavelmente o avião fez um pouso forçado no meio da mata. Foi aí que meu ex-cunhado me surpreendeu ao dizer: “O erro deles foi baixar de altitude; eles deveriam ter subido”.

Vendo minha expressão de perplexidade, ele continuou: “...claro, quanto mais alto, mais longe você enxerga; se tivessem subido bastante teriam visto em que direção ficava a costa menos distante e a maioria das cidades brasileiras fica na costa.”.


O que ele dizia fazia todo o sentido do mundo. Claro que quanto mais alto mais longe enxergamos! Mas como é pouco natural pensar em subir numa hora dessas! O nosso instinto é o de baixar, voltar para o chão onde nos sentimos seguros, onde reconhecemos o terreno, onde vemos os detalhes, onde nos sentimos competentes para atuar. O chão é nossa zona de conforto. Eu certamente não teria pensado em subir.

Gostei do comentário de meu cunhado. Ele nunca foi um grande filósofo, mas certamente naquela hora me convenceu de que era um grande piloto. E nunca mais pensei no assunto. Pelo menos até que há algumas semanas um novo cliente de coaching começou a me contar a situação em que se encontrava. Ele compreendia a situação. Mais do que compreendia, conhecia intimamente todos os detalhes. Ele claramente tinha e sabia que tinha as competências, a motivação e a energia para lidar com os aspectos práticos da situação. Mas apesar disso não conseguia sair do lugar. Não conseguia enxergar a direção correta. E ficava ali, num corpo a corpo improdutivo com os detalhes da sua realidade, que gerava muito movimento, mas pouco avanço.

“No mato e sem cachorro” foi a imagem mental que ele me causou.

Quando essa imagem me veio em mente, minha reação imediata e involuntária – devo confessar – foi falar, mais pra mim mesmo que pra ele, “você precisa subir”. Ele me olhou espantado, talvez porque minha própria expressão devia ser de espanto. A frase tinha saído sozinha. Num processo parecido com uma erupção vulcânica, essa idéia enterrada vai lá saber onde nas profundezas de meu inconsciente, aflorava espontaneamente. E com ela o fio da meada das implicações do princípio de meu cunhado. Subir para enxergar melhor, para enxergar mais o todo e menos os detalhes. Subir para sair da zona de conforto do corpo a corpo com os detalhes do aqui agora que não resolvia nada, mas que dava a impressão de estar contribuindo a resolver. Subir para ter outra perspectiva da situação, para enxergar os limites de suas possibilidades, a extensão de suas opções. Subir para poder saber para onde queria ir.
A hora que se seguiu passou com eu ajudando ele a subir. E ele subiu. E enxergou a sua costa e de repente ficou claro para ele onde ele queria ir e como chegar lá.

Para mim o que ficou claro foi como é comum – e tola – nossa tendência a teimar em ficar dentro de nossos problemas, de onde não podemos ter uma visão objetiva da situação.
Se formos parte do problema dificilmente poderemos ser parte da solução. Quanto mais emaranhados mais nos emaranhamos. Claro que é instintivo querermos descer, o problema está precisamente aí. Quando somos instintivos deixamos que nosso lado animal nos conduza. Mas se somos superiores aos animais é justamente porque temos um lado racional que nos permite tomar decisões antiinstintivas, portanto criativas. Nós seres humanos temos a capacidade de nos abstrair de nós mesmos, de pensar em nós mesmos pensando, como explica Stephen Covey1, e quando ele diz que “entre o estímulo e a resposta se encontra a liberdade de escolha do ser humano”, liberdade esta que ele muito eficazmente define como respons-habilidade ou a capacidade de responder adequadamente à situação, o que ele está dizendo é “suba em vez de descer”.

A única saída para uma sinuca de bico, no jogo de sinuca, é por cima. Assim deve ser para os momentos difíceis de nossa vida. Se não estamos conseguindo enxergar a solução de um problema, precisamos nos distanciar dele. Olhar para a situação de outros ângulos, com mais recuo, até de forma mais impessoal, para termos novas perspectivas. Em PNL (programação neuro-lingüística) chamamos isso de estado desassociado. O estado que nos permite olhar para uma situação como se não fizéssemos parte dela. Como se estivéssemos assistindo a um filme e não à nossa vida. É impressionante a clareza de visão que podemos ter quando olhamos para um problema de cima.

Quando Deepak Chopra1 ao ilustrar a lei do mínimo esforço, a 4ª lei espiritual do sucesso, diz: “...responsabilidade é não ficar culpando alguém, ou alguma coisa pela situação, muito menos a si mesmo. Aceitando a circunstancia, o fato, o problema como se apresenta no momento, a responsabilidade passa a ser a capacidade de ter uma resposta criativa para aquela situação como ela se apresenta no momento.”, ele está dizendo “suba em vez de descer”. Chopra também diz que todos os problemas contêm em si as sementes da oportunidade. Eu me permito acrescentar que para enxergar esta semente precisamos aprender a subir quando nosso jeito natural seria o de descer.

Eu nunca tinha percebido o potencial do conceito que meu cunhado tinha me ensinado. As coisas da vida são assim mesmo, de repente peças soltas e aparentemente não relacionadas entre elas, se encaixam uma na outra e formam uma figura até então impensável. Eu não tinha percebido, mas obviamente meu inconsciente tinha.

1Covey, Stephen. Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes
2 Chopra, Deepak. As 7 leis espirituais do sucesso

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